Só
à segunda Manuela Macedo, 37 anos, acertou
com o marido. Mas não o lamenta. “jamais
voltaria atrás para te ter só
a ti”, costuma dizer carinhosamente a
Pedro, de 44 anos, o homem ideal, que encontrou
cinco anos depois de se ter divorciado. Ele
acabara de se separar e o estado civil uniu-os.
Entre conversas sobre as experiências
falhadas e os filhos que cada um tinha, apaixonaram-se.
Há sete anos que mantêm um casamento
tranquilo e maduro. Manuela assegura que, se
não fosse o divórcio, dificilmente
seria assim. “Talvez não desse
tanto valor ao Pedro se não tivesse casado
antes”, admite.
O recasamento
é um fenómeno cada vez mais comum
em Portugal. Dados do Instituto Nacional de
Estatística (INE) indicam que, em 2004,
43,6% dos casamentos de divorciados foram entre
pessoas de igual estado civil. “É
uma tendência muito recente”, explica
Cristina Lobo, investigadora do ISCTE e autora
do estudo O Recasamento em Portugal. “Nos
últimos anos, começa a haver maior
proximidade entre as pessoas deste estado civil.
Ou por terem passado por situações
semelhantes ou por terem filhos, ambos estão
em pé de igualdade e entendem-se melhor”.
Foi assim com Manuela. “Identificava-me
com o Pedro, percebia o que ele estava a passar.”
Os primeiros anos
a seguir ao divórcio são um jogo
de emoções. É nessa altura
que o amor pode voltar a surgir. “O entervalo
entre casamento e recasamento é muito
curto”, explica Cristina Lobo. A maior
parte ocorre menos de dois anos após
o divórcio. São os homens que
entram mais rápidamente numa nova relação.
As mulheres ficam com os filhos e esperam algum
tempo até trazerem um novo pai para casa.
O MEDO DE UMA
NOVA relação falhada aumenta o
grau de exigência. “À segunda
é tudo mais calculado porque o divórcio
é uma experiência que não
se quer repetir”, diz Manuela. “Uma
pessoa divorciada é mais selectiva. E
quando tem filhos, pior. Pensa-se se é
aquela pessoa certa, não só para
nós mas também para as crianças.”
Pedro preenchia todos os seus requisitos. Sabia
o que era um casamento e tinha um filho (João)
quase da mesma idade que o da Manuela (Miguel).
“Começaram a dar-se como irmãos”,
conta. Nem sempre é assim tão
fácil. Os filhos são um dos maoiores
obstáculos aos recasamentos entre divorciados.
“Interferem muito na vida do casal”,
diz Cristina Lobo.
Manuela e Pedro
conseguiram dar a volta. E pensaram muito antes
de ter um novo bebé. Os receios dissiparam-se
com a chegada da Beatriz, agora com 6 anos.
“Foi bom ter nascido uma menina. Eles
já se tinham um ao outro.”
O RECASAMENTO
é muito diferente do primeiro casamento.
A começar pela maturidade das pessoas.
“Tem a ver com a idade, mas também
com aquilo que passámos”, diz Manuela.
“Não voltamos a cometer os mesmos
erros, não brigamos por tudo e por nada.”
A mediadora familiar Margarida Viaitez, coordenadora
do Espaço Família, concorda. “As
pessoas estão mais dispertas para os
erros que são cometidos pela maioria
dos casais. E investem mais numa segunda relação
porque já sabem o desafio que as espera.”
Há outras
diferenças: enquanto para o primeiro
casamento há quem vá cego pela
paixão ou convencido pelos pais, numa
segunda união é a vontade própria
que prevalece. Helene Coutinho, 51 anos, não
tem dúvidas de que o seu segundo casamento
foi mais consciente. Há 15 anos casou
com um divorciado três anos mais novo.
Uniu-os uma forte cumplicidade, mas também
uma grande paixão. “Ama-se igual,
com a mesma intensidade, mas com consciência.
Este casamento tem muito a ver com o que idealizei
num marido: admiro-o, sinto-me segura e protegida”,
confessa.
Por opção,
não tiveram filhos. “Como pai e
mãe estávamos realizados. Procurámos
realizar-nos como casal.” A aposta na
vida a dois é frequente nos segundos
casamentos. No fundo, as pessoas procuram aquilo
que não tiveram. “Há uma
disponibilidade maior para a relação
conjugal”, diz Cristina Lobo.
O casal conversa
sobre os filhos, mas encontra tempo para si,
procura afinidades e ajuda-se no campo profissional.
Helena tem uma galeria de arte em Lisboa e o
marido é o seu braço direito.
“Ele está ligado à parte
financeira, eu à artística. Trouxe-me
o lado mais prático e dá-me muitas
dicas.”
A maturidade do
recasamento é uma certeza. “A idade
ajuda a aceitar as coisas, já não
somos jovens e rebeldes.” De facto, a
maioria das uniões entre divorciados
acontece entre os 35 e os 45 anos.
“O conhecimento
mútuo, a confiança, a aceitação
das diferenças e o investimento na relação
serão as prioridades destes novos casais
que ultrapassam as dificuldades com mais serenidade”,
explica Margarida Vieitez. Manuela Macedo compreende
bem as palavras da especialista. Ela é
muito mais tolerante com o Pedro do que foi
com o ex-marido. “Não compreendia
porque é que não tinha sido feliz
no primeiro casamento. Agora já sei o
que é que correu mal. E sinto-me feliz
neste.” À segunda foi de vez.
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